O Campeonato Brasileiro é emocionante, é imprevisível, permite ver de perto craques como Alex, Seedorf, Juninho, proporciona campeões diferentes com frequência e frequentes campeões lutando para não cair.
Tudo isso é verdade, o que não anula outra: o Brasileiro é hoje quase irrelevante para a seleção brasileira.
Se a convocação para a Copa do Mundo fosse hoje, quantos dos 23 escolhidos estariam defendendo clubes do Brasil? Em 2002, com Luiz Felipe Scolari, foram dez. Em 2006, quatro. Em 2010, três.
Há dois anos, Mano Menezes iniciou um amistoso contra Gana com um ataque 100% nacional: Ronaldinho (Flamengo), Ganso, Neymar (Santos) e Leandro Damião (Internacional). Um mês depois, contra a Costa Rica, repetiu a fórmula, com Lucas (São Paulo) e Fred (Fluminense) nas vagas de Ganso e Damião.
Não faz tanto tempo assim. Em 2011 os clubes receberam uma enxurrada de dinheiro dos novos contratos de transmissão de TV, o Flamengo repatriou Ronaldinho; o Santos e Neymar disseram não pra todo mundo. Também havia goleiros (Jefferson, Victor) volantes (Ralf, Paulinho) e zagueiros (Dedé, Réver) que poderiam ser titulares da seleção. E foram.
Essa fase acabou. O Brasileiro perdeu importância para a seleção porque hoje fornece poucos jogadores que possam defendê-la.
Felipão pediu e a CBF acatou: neste ano não vai ter Superclássico das Américas, série de dois jogos entre as seleções locais de Brasil e Argentina.
O simbólico título já não tinha importância mesmo. Ou José Maria Marin não teria agido como agiu em 2012: 1) saiu da Bombonera e voou de volta ao Brasil sem nem ver o time de Mano Menezes receber as medalhas por ter vencido nos pênaltis; 2) demitiu o treinador 36 horas depois.
Comportamento do presidente da CBF à parte, Felipão entende que não faz sentido montar uma seleção made in brazil a tão pouco tempo da Copa.
Alejandro Sabella, técnico da Argentina, pensa o mesmo. Teriam que chamar, cada um, uns 15 ou 20 atletas que não estarão no Mundial. A essa altura avaliam que abrir o leque de opções mais atrapalha do que ajuda.
Para o amistoso da semana passada na Suíça, Scolari levou 20 jogadores. Dos titulares, só Fred e Jefferson jogam no país*. Os outros daqui foram o volante-lateral Jean e o centroavante Jô.
Se o objetivo é 2014, o final de semana pedia mais observação ao que acontece na Europa do que no Brasil.
Oscar fez gol pelo Chelsea, Hulk pelo Zenit; Paulinho e Neymar estrearam pra valer em seus novos times. Alternativas? Philippe Coutinho jogou demais pelo Liverpool, Diego Costa fez dois pelo Atlético de Madrid em Sevilla.
Quando Scolari montou a lista para a Copa das Confederações, eram 11 brasileiros contra 12 estrangeiros. Fernando, Paulinho, Neymar e Bernard foram embora. Outros ainda irão. E a tendência é que o time da casa em 2014 esteja mais para 2010 do que para 2002.
*Havia escrito que, dos titulares no amistoso, só Fred joga no Brasil. Faltou Jefferson, como lembrou um leitor aqui. Obrigado.