Eusébio viu Neymar jogar
10/09/13 11:22Não é fácil achar um táxi em volta do Gillette Stadium, nos arredores de Boston, onde Brasil e Portugal vão jogar um amistoso logo mais. Foi preciso ir até o shopping que fica ao lado do estádio, entrar num restaurante e lá pedir que chamassem um.
O trabalho de segunda-feira já estava concluído, as seleções brasileira e portuguesa haviam treinado, os técnicos já tinham falado, era só esperar o taxi de volta para o hotel, distante uns 50 quilômetros do estádio.
Foi quando entrou no restaurante uma desses figuras que fazem repórteres imediatamente voltar a trabalhar, mesmo que bloco de anotações, caneta e câmera estejam guardados.
O grande Eusébio estava ali, a poucos passos. Camisa polo vermelha, paletó preto, bengala. Acompanhado por um rapaz de uns 30 anos, foi encaminhado pelo maitre a uma mesa. Eusébio, na véspera de um Brasil vs. Portugal, valia a pena tentar ouvi-lo.
Ao lado de um colega, abordamos primeiro o acompanhante do ex-craque. “Ele se importaria em falar conosco sobre o jogo de amanhã?” Eusébio estará no amistoso de hoje, assim como Pelé, a convite de patrocinadores.
O pedido foi repassado. Já com os olhos no cardápio, Eusébio deu uma longa e mal humorada resposta, que pode ser resumida em “tudo bem, vamos logo com isso, façam as perguntas que querem fazer e vão embora daqui”. Pelo menos entendemos assim. Perguntamos então o que ele esperava do jogo.
“É um jogo que não vale nada. Não é por uma Copa, um campeonato, é só um amigável. O que eu espero do jogo? Ora, eu espero que Brasil e Portugal agradem a essas pessoas todas que virão aqui para ver o jogo.”
Emendamos uma pergunta sobre Neymar. Como Eusébio demorou alguns segundos a responder, me passou pela cabeça uma declaração de Johann Cruyff, que em maio deste ano disse ao “Marca” que não havia visto Neymar jogar.
Inspirado pelo holandês, arrisquei: “O senhor o viu jogar? O que pode dizer sobre Neymar?” Fazia tempo que não presenciava uma reação tão irritada de um entrevistado. Eusébio se enfureceu.
“Eu sou um homem do futebol! Eu fui o melhor jogador da Europa! Eu sou o maior jogador da história de Portugal. Eu fui o maior marcador [goleador] da Copa de 1966! E você me pergunta se eu o vi jogar!? É claro que eu vi Neymar jogar!” Depois do discurso, concluiu: “Ele é bom.”
Não havia como fazer outra pergunta. Eusébio voltou a estudar o cardápio. E o táxi chegou.