Foi um prazer
11/10/13 10:40No primeiro jogo da seleção brasileira que cobri para a Folha, pouco olhei para o campo: minha missão era prestar atenção ao que se passava em volta do Estádio Nacional em Harare, no Zimbábue.
De lá para cá o jornal me mandou para Copa do Mundo, Copa América, Olimpíada, Copa das Confederações, Sul-Americano Sub-20 e dezenas de amistosos.
Sentado no chão de um corredor de hotel em Arequipa, falei com um Neymar que ainda se surpreendia com a fama. Um ano e meio depois, conversar a sós com o mesmo Neymar demandou uma negociação de 20 dias.
Revelei que um capitão da seleção estava em guerra com a principal patrocinadora da CBF. Entrevistei um capitão que não abre os braços quando precisa gritar com um companheiro.
Acompanhei todas as últimas chances dadas a Ronaldinho de 2010 para cá. Voei ao lado do craque uma vez na Argentina _não trocamos uma palavra.
Ouvi frases impublicáveis e publiquei frases (para mim) inesquecíveis. Minha preferida é uma de Jefferson: “O Brasil já perdeu Copa do Mundo com goleiro branco”. A mais repercutida foi aquela do Felipão: “Essa história de volante goleador é muito bonita para a imprensa.”
Pude ver de perto quase todos os craques que gostaria de ter visto em ação _faltou Ibrahimovic, que pelo menos deu uma boa entrevista coletiva. Presenciei golaços de Rooney e Balotelli; aplaudi de pé o recital de Messi em Nova York.
Peguei incontáveis voos e não tenho ideia do que seja classe executiva. Sofri com atrasos de uma companhia aérea britânica; uma alemã perdeu minha bagagem. Estive perto de congelar em Johannesburgo e de derreter em Doha. Conheci um ou outro restaurante espetacular e dezenas de espeluncas.
Quase nunca vi Ricardo Teixeira nos jogos da seleção brasileira. Mas vi muito José Maria Marin, que certa vez prometeu o que não podia aos pais do menino Kevin Beltrán Espada.
Do presidente da CBF, ganhei uns tapinhas no rosto quando lhe perguntei em setembro de 2012 se ele substituiria Mano Menezes por Luiz Felipe Scolari. “Isso é coisa de vocês da imprensa”, me disse o então sorridente cartola. Dois meses depois, você sabe o que aconteceu.
Relatei clássicos espetaculares, peladas de doer os olhos e jogos em que o futebol não teve nenhuma importância. Escrevi sobre uma partida que não aconteceu. Estive em estádios decrépitos e em arenas espetaculares. Pude trabalhar com grandes fotógrafos e e tive o privilégio de assinar reportagens com alguns desses monstros que ganham prêmios.
Escrevi tudo isso para dizer que estou deixando a Folha de S.Paulo depois de quatro anos extraordinários. Olhando para trás, é uma pena que este blog tenha demorado tanto para nascer e tenha durado tão pouco.
Tenho muito a agradecer a muita gente na Folha, e preciso citar cinco dessas pessoas: José Henrique Mariante, que me contratou e me deu a missão de seguir a seleção pelo mundo; Naief Haddad e Roberto Dias, por bancarem a ideia de criar este espaço; Lívia Marra, sem a qual eu jamais teria conseguido postar uma linha sequer aqui; Diógenes da Silva, o ás que organiza as viagens do jornal e nunca me pôs numa roubada sequer.
E claro, obrigado sobretudo a você que se deu ao trabalho de vir até aqui, ler, comentar, cornetar. O e-mail aí ao lado ainda vale, o Twitter também. Foi um prazer.